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A Surpreendente Leveza do Cristianismo

A Surpreendente Leveza do Cristianismo

Normalmente, não associamos o cristianismo à leveza ou ao senso de humor. Claro, há aqueles cristãos mais descontraídos, que tocam violão e cantam de forma animada em suas reuniões, mas, mesmo assim, eles levam as coisas bastante a sério. Falam com urgência sobre amar o próximo e sobre a necessidade de imitar Jesus. Apesar da informalidade, dificilmente são considerados brincalhões. Afinal, como seria possível ser leve quando o centro de sua fé é um Deus crucificado?

Chesterton

É aí que entra G.K. Chesterton, um pensador cristão que consegue capturar um tipo de humor e alegria que raramente vemos nas comunidades cristãs. Ele aborda questões profundas com uma leveza quase encantadora, e isso o torna único. No livro Ortodoxia, Chesterton relembra uma conversa curiosa que teve em seu trabalho, onde seu chefe rejeitou um manuscrito, dizendo: “Ele ficará bem. Ele acredita em si mesmo.” A resposta de Chesterton foi brilhante:

“Quer saber onde estão os homens que mais acreditam em si mesmos? Pois eu posso te dizer. Conheço homens que acreditam em si mesmos mais colossalmente do que Napoleão ou César. Sei onde arde a estrela fixa da certeza e do sucesso. Posso te guiar aos tronos dos Super-homens. Os homens que realmente acreditam em si mesmos estão todos em hospitais psiquiátricos.”

(Ortodoxia, Cap. 2, Chesterton)

É um argumento provocativo e, de fato, faz sentido. Acreditar em si mesmo não aumenta sua chance de sucesso. Pense nos aspirantes a atletas profissionais ou nas pessoas que querem se tornar influenciadores nas redes sociais. Todos acreditam intensamente em si mesmos, algumas vezes até de forma delirante! Quem nunca conheceu alguém que insistia que seria a próxima estrela pop, mesmo sem saber cantar, ou que acreditava ter escrito o “próximo grande romance”, mas não conseguia organizar uma frase corretamente? Dizer que essas pessoas não vão conseguir não muda nada, porque elas simplesmente acreditam em si mesmas.

Nossa sociedade, tão individualista, prega que “acreditar em si mesmo” é o caminho para o sucesso. Chesterton, no entanto, inverte essa lógica. Ele nos lembra que somos péssimos juízes das nossas próprias habilidades. Precisamos de algo maior e mais estável para acreditar do que no nosso próprio ego.

Chesterton faz outra provocação quando aborda o uso da razão. Presumimos que, sendo racionais, eventualmente compreenderemos tudo. Mas ele desmonta essa suposição:

“Se um homem diz, por exemplo, que há uma conspiração contra ele, você não pode refutar isso sem dizer que todos os homens negam ser conspiradores; o que é exatamente o que conspiradores fariam. Sua explicação cobre os fatos tanto quanto a sua. Ou se um homem diz que é o rei legítimo da Inglaterra, não é uma resposta completa dizer que as autoridades existentes o chamam de louco; pois, se ele fosse o rei da Inglaterra, isso talvez fosse a coisa mais sábia a se fazer. Ou se um homem diz que ele é Jesus Cristo, não é resposta dizer que o mundo nega sua divindade; pois o mundo negou a Cristo.”

(Ortodoxia, Cap. 2, Chesterton)

Mais uma vez, Chesterton desafia nossas premissas. As pessoas nesses exemplos não são ilógicas; suas conclusões fazem sentido dentro de suas visões de mundo. Ainda assim, sabemos que estão erradas. Isso nos mostra como nossa confiança na razão pode ser limitada e enganosa.

Nosso mundo, conforme o percebemos, é estreito demais. Presumimos que a razão e o esforço individual são suficientes para dominá-lo. Mas, nesse processo, ignoramos a alegria e o assombro que nos cercam. Pense, por exemplo, na cor verde de uma folha. Parece algo comum, quase insignificante. Mas e se essa folha fosse azul, roxa ou listrada? O verde é uma escolha improvável e, ao mesmo tempo, uma maravilha. É como se Deus, o Criador de todas as coisas, tivesse decidido que o verde traria alegria – um presente inesperado no meio da rotina.

Chesterton nos convida a parar e reconsiderar. Será que o mundo é só uma máquina sem alma? Ou há algo divino que encontra alegria em detalhes aparentemente simples, como o verde de uma folha? Nossa vida cotidiana, tão cheia de obrigações e ceticismo, raramente nos permite enxergar além de nós mesmos. Mas Chesterton nos lembra que há muito mais. Ele nos chama a redescobrir um mundo infinitamente maior, onde até mesmo uma folha verde é um milagre, e onde somos apenas pequenas partes nos planos de um Deus infinito.

Se você ficou curioso sobre os escritos de Chesterton, suas obras estão disponíveis em vários sites como Amazon ou Google. Mas, enquanto isso, reative seu senso de encantamento. Não se limite à visão estreita que o pensamento moderno impõe. O cristianismo não é só seriedade. Há uma boa notícia, e ela está impregnada de criatividade e beleza. O Deus que criou o universo está no controle de tudo, até das pequenas folhas verdes. E isso transforma o mundano em um verdadeiro conto de fadas.

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