Renovacao na idade media podemos usar 1034071084.png

Renovação na Idade Média: Podemos Usar a Palavra “Avivamento”?

Quando falamos de avivamento, nossas mentes se voltam a eventos cheios de fervor, onde a Palavra de Deus é proclamada com ousadia, vidas são transformadas e a oração fervorosa se torna uma linguagem comum. Mas será que é apropriado usar essa palavra para descrever os movimentos de renovação da Idade Média?

A resposta depende do que consideramos essencial em um avivamento. Será que houve pregação fiel? Será que as comunidades se voltaram para Deus em oração fervorosa? E quanto à convicção e arrependimento? Vamos olhar para as vozes que ecoaram no coração desse período.

Pregação que Edifica

Na Regra Franciscana de 1223, encontramos uma instrução clara sobre a pregação: “Que as palavras sejam estudadas e castas, úteis e edificantes ao povo, falando-lhes de vícios e virtudes, punição e glória; e elas devem ser breves, porque o Senhor manteve suas palavras breves quando estava na terra.” Aqui vemos um compromisso com uma comunicação que educava, corrigia e, acima de tudo, edificava espiritualmente.

Bernardino de Siena, pregador do século XV, foi ainda mais enfático sobre a centralidade da pregação. Em um de seus sermões, ele alertava: “Diga-me, o que seria do mundo, quero dizer, da fé cristã, se não houvesse pregação? Muito rapidamente, nossa fé teria perecido, pois não acreditaríamos em nada daquilo que agora cremos.” Bernardino ainda observou que a Igreja ordenava que houvesse pregação em todos os domingos e insistia: “Se você só puder cumprir uma dessas obrigações, ouvir missa ou ouvir a pregação, é melhor perder a missa e ouvir o sermão, pois você não coloca sua alma em tanto perigo ao não ouvir a missa quanto ao não ouvir a pregação.”

Para Margery Kempe, ouvir sermões era uma experiência quase divina. No “Livro de Margery Kempe” (1430), ela relata como ouvir a pregação era “o maior conforto na terra”, enquanto ser privada disso era “a maior dor”.

Oração Fervorosa

Os movimentos de renovação na Idade Média estavam profundamente enraizados em oração. Catherine de Siena, uma mística do século XIV, registrou em suas “Diálogos” (1377–1378) quatro petições que revelam um coração intercessor: a primeira, por ela mesma; a segunda, pela reforma da Igreja; a terceira, pela paz entre os cristãos; e a quarta, pela providência divina para o mundo.

A fervorosa oração também era refletida em orações simples, como a do manuscrito MS Ashmole 61, do século XV:
“Jesus, Senhor, fonte de toda bondade, por tua grande piedade, eu te rogo: perdoa-me todas as minhas maldades que te entristeceram hoje.”

Essas palavras, embora singelas, expressam o arrependimento diário e a confiança na misericórdia divina, características dos movimentos espirituais medievais.

Convicção e Arrependimento

Movimentos de renovação na Idade Média também estavam profundamente enraizados em convicção de pecado e arrependimento. Jan Hus, no início do século XV, escreveu em “De Ecclesia” (1413–1414) sobre a confissão de que “Jesus Cristo é o Filho do Deus vivo”, declarando essa fé como o fundamento da Igreja.

Bernard de Clairvaux, em seu tratado “Sobre Amar a Deus” (1153), descreveu o profundo impacto da cruz de Cristo nos fiéis: “Eles sabem como precisam totalmente de Jesus e dele crucificado; enquanto admiram e abraçam nele a caridade que excede todo entendimento, eles se envergonham de não darem nem mesmo o pouco que têm em resposta a tão grande amor.”

E não podemos esquecer São Francisco de Assis. Segundo o “Vida de São Francisco” (1228), escrita por Tomás de Celano, Francisco estava presente na igreja quando o evangelho sobre o envio dos discípulos foi lido. Depois da missa, ele pediu ao sacerdote que explicasse o texto. O sacerdote mencionou que os discípulos deveriam “não possuir ouro, nem prata, nem dinheiro; não levar pão, nem bastão; não usar sapatos ou duas túnicas, mas pregar o Reino de Deus e o arrependimento”. Ao ouvir isso, Francisco respondeu cheio de alegria: “É isso que eu quero! É isso que procuro! É isso que desejo fazer do fundo do meu coração!”

Avivamento ou Renovação?

Se definimos avivamento como um retorno apaixonado a Deus, onde pregação fiel, oração fervorosa e arrependimento sincero florescem, talvez possamos usar essa palavra para descrever os movimentos medievais de renovação. Eles não foram eventos pontuais, mas transformaram a Igreja e moldaram o cristianismo por séculos.

Essas histórias nos lembram que Deus sempre trabalha em meio à história, mesmo nos tempos mais sombrios. Se ouvirmos com atenção, talvez possamos aprender com a paixão daqueles que vieram antes de nós, mantendo viva a chama da fé em nossos próprios dias.

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *